02/04/24


 


Novo romance histórico a figurar na estante em finais de Maio 2024.

"O Coração-Castelo", finalista do prémio Leya 2023, baseia-se em factos verídicos ocorridos no Japão, em 1637. 

24/05/23

À conversa com Ricardo Duarte, sobre os primeiros livros (ficção) dos autores. Se não conhecem, fiquem a conhecer Verdes Anos, belos diálogos por ele conduzidos.

https://open.spotify.com/episode/1vZhYeq2xmEoBxcn11HopF?si=chM6UGdNS1Cc0xr8cyx7hw 

17/03/21

Pés na Terra - Crónicas na Rádio Lisboa


Olha que maravilha de convite! A Rádio Lisboa, jovem e cheia de energia crescente, pôs-me a ler crónicas de viagens do Pés na Terra, e não só.
Para quem queira sair daqui ,em 20 minutos.

Eis o primeiro episódio.

https://anchor.fm/rlx-radio-lisboa/episodes/Ps-na-Terra---Programa-1-erqm3j/a-a4rjj2t 

13/03/21

Centro Comercial Liberdade - Cap. II - Farol XXI



https://farolxxi.pt/2021/02/26/centro-comercial-liberdade-capitulo-ii/

O Sr. António desce a avenida com a sua cabeça cheia de pensamentos, em contraste com a dita, vazia, apenas dois tipos a correr, um para cima, outro para baixo, ambos com máscara e com aspecto de virem a morrer mais cedo do que ele.

Tem 89 anos, e ainda antes do Covil, como ele lhe chama, já lhe fora colocada uma anca postiça, sobra-lhe um rim apenas, sobreviveu a um cancro no intestino, já fez uma biópsia ao pulmão que os longos anos de fumador deixam suspeitas ao seu médico.

Leva a máscara no queixo e pasma-se como podem fazer jogging aqueles jovens, correndo com ar de heróis e, ao mesmo tempo, sôfregos de ar, tresloucados acelerando a corrida.

Isso lembra-o de alguém dizer que noutro dia viu correr um antigo gestor do BES, com o seu cão inglês, pela marginal da Expo. Vem-lhe à cabeça então o perdão fiscal de 54 milhões que o Estado fez aos ex-gestores do banco em Outubro passado, em pleno ano de Covil, no mesmo ano em que se reduziu os médicos e enfermeiros da frente de combate.

Falta meio termo, pensa…falta bom senso a este país, reflete… Isto é a galinha dos ovos de ouro de alguém, uns poucos, pondera…

O seu neto fez dois anos a semana passada. Não houve festa, e já não o vê há seis meses. Deve estar tão crescido. 

Quando falou com a filha, ela concentrou-se nas coisas boas, contou-lhe todos os progressos do neto, mandou mais de 100 fotografias, é de uma generosidade sem tamanho. Aliás, não ver o pai é para o proteger, sempre foi uma rapariga muito atenta. Contou-lhe da consulta dos dois anos no pediatra e ficou-lhe um pormenor, a pediatra disse-lhe que não se preocupasse com o atraso na fala do filho, “estão todos atrasados um ano, por causa do uso da máscara, como não vêem tanto os lábios, é normal…”.

E tudo é normal, os banqueiros e grandes gestores a correrem com os seus cãezinhos, se possível com patrulha policial, as crianças que não têm ambientes sociais saudáveis, os saudáveis fechados em casa como se fossem pestilentos.

Dois polícias aproximam-se com ar de reprovação. Ele põe a máscara para cima. Dizem bom dia e perguntam-lhe para onde vai, maquinais. Ele finge-se de tontinho, de surdo, e continua a caminhada sem lhes passar cartão. Eles, falta de hábito a tal reacção, paralisam, deixam-no afastar-se.

O mais novo sente o orgulho ferido, a autoridade golpeada. Chama o outro e alcançam facilmente o “velhote”. No entanto, quando recomeçam a conversa, azar do pobre rapaz fardado, dá-lhe um ataque de espirros e, apesar da boca tapada, faz disparar partículas à sua volta, inclusivamente para cima do Sr. António, cidadão ordeiro, com a inteligência de ficar calado perante o ataque fulminante de sinusite alheia. Imparável.

O ancião decide continuar a descer a avenida. Nem o polícia pediu desculpa nem se afastou quando disparava os seus segredos.

O Sr. António começa a trautear uma música. Acha tudo estranho, desajustado, bizarro. Ou então, pensa, é tudo normal no paraíso dos hipocondríacos.

Raquel Ochoa

Escrita de Viagens


Quatro sessões para agarrar nessas memórias de viagem e fazer delas arte.
Curso on line, quintas, das 19h às 21h30.
Número máximo de participantes: 6
Preço: 80 euros.
Envio programa aos interessados por mensagem.

08/02/21

Farol XXI - novo site

CONVERSAS DE CAFÉ - QUANDO AS HAVIA

O Senhor António lava as chávenas. Na verdade, desinfecta. Álcool gel, comprado nos indianos, que afinal são bengalis, ali perto da derradeira loja de bengalas, que, dizem, fechará em breve porque vão morrer os velhos todos, e os novos não chegarão a velhos, e assim jamais precisarão delas, pois se finam num piscar de olhos apenas pelo sopro daquele vírus, que, dizem, por aí anda muito inteligente, portanto, diligente, a ceifar como Peste Negra. Foi aquilo que o Senhor António ouviu, ou ouviu aquilo que outros antes ouviram, e depois relatam, já nunca bem se sabendo onde tudo começou nem quem falou em primeiro nem em último, muito menos em terceira mão; pela boca do Senhor António, sem apelido, não ficaríamos elucidados, porque pouco ou nada fala, além do bom dia, boa tarde, são um euro e cinquenta cêntimos pelo pastel de nata e bica, e coisas do género. Outra atitude, julga ele, não se esperava dele. O café, estabelecimento, é dos clientes; eles que falem e se entendam, até porque muitos são especialistas em assuntos complicados, e a sua pessoa, António, vai apenas apanhando aqui umas advertências, ali umas recomendações, acoli uns conselhos. Foi, aliás, por uma advertência, escapou-lhe se provinda da britânica University of Oxford ou da burquinabê Université de Ouagadougou, que trocou o álcool gel pelo Sonasol para lavar as chávenas… Entretanto, na mesa junto à janela, dois fregueses levantam a voz, ou assim parece ter sucedido, até para dar jeito à narrativa que se inicia, portanto…

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https://farolxxi.pt/2021/02/02/conversas-de-cafe-quando-as-havia/